Técnica de pesquisadores de neurotrauma do HBDF agiliza alta de pacientes internados em UTIs
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A UTI Neurotrauma do Hospital de Base do Distrito Federal (HBDF) recebeu a visita de pesquisadores de um hospital privado de São Paulo em busca de aprender mais sobre a Neuromodulação por Estimulação Elétrica Periférica (Neep) e sobre como implementar o Time de Suporte Neuromuscular Avançado.
Criado em 2021 pelo pesquisador Paulo Eugênio Silva e pela chefe do Serviço de Saúde Funcional do HBDF, a fisioterapeuta Agda Ultra, esse time de suporte busca mudar o paradigma atual (conhecido como survival), em que médicos, fisioterapeutas, enfermeiros e nutricionistas focam a garantia de que os pacientes sobrevivam ao período de internação na UTI. Com os avanços tecnológicos, o maior desafio atual é dar alta aos pacientes da UTI de forma mais rápida e com o máximo de independência funcional (survivorship).
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O maior desafio atual é dar alta aos pacientes da UTI de forma mais rápida e com o máximo de independência funcional | Fotos: Alberto Ruy/IgesDF
“Na UTI, o fisioterapeuta assistencial desempenha um papel fundamental, sendo responsável por até dez pacientes, com foco na reabilitação respiratória e motora. Além disso, ele colabora ativamente em atividades compartilhadas com a equipe multidisciplinar, como transporte intra-hospitalar. Enquanto isso, nosso time especializado trabalha no tratamento específico do sistema neuroimunoendócrino, com ênfase na manutenção da força, massa muscular e na redução do processo inflamatório de baixo grau. Ambos os fisioterapeutas, assistenciais e especializados, têm papéis distintos, mas essenciais e complementares, garantindo um cuidado integral e otimizado ao paciente”, comenta Marília Mendes Rodrigues, pesquisadora e membro do Time de Suporte Neuromuscular Avançado.
Segundo Paulo Eugênio Silva, mais da metade dos pacientes que recebem alta desenvolve uma condição chamada de fraqueza adquirida na UTI. “O uso de medicamentos e a restrição ao leito durante a internação afetam o sistema nervoso periférico, reduzindo significativamente a força muscular. Para que não permaneçam muito tempo internados na UTI, que é um ambiente de alto potencial de infecção, os pacientes costumam ter alta sem conseguir caminhar, tomar banho sozinhos ou se alimentar. Muitos não conseguem voltar ao trabalho, o que se tornou um problema de saúde pública mundial”, explica.
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A nova técnica diminiu o número de casos de fraqueza adquirida na UTI
Com a aplicação do Suporte Neuromuscular Avançado, a chance de alta sem sequelas é considerável. “Desde que implantamos essa tecnologia, em 2021, atendemos mais de 5 mil pacientes. Em um ensaio clínico com 60 pacientes no Hospital de Base do DF, demonstramos que 50% dos que receberam tratamento convencional desenvolveram fraqueza adquirida na UTI, enquanto que nenhum dos que receberam o Suporte Neuromuscular Avançado apresentou essa condição”, afirma Paulo Eugênio Silva. O estudo foi publicado em 2019 em um importante periódico da sociedade japonesa de terapia intensiva.
Como funciona?
Para aplicar a técnica, o time utiliza um dispositivo específico, desenvolvido a partir de pesquisas científicas que envolvem a Neep. “Venho estudando a Neep desde 2007. Em 2008, realizei um fellowship [programa de complementação especializada voltado a médicos e profissionais de outras áreas da saúde] na Bélgica, o que me permitiu absorver novas ideias. Em 2012, já no Brasil, foi desenvolvido um dispositivo para a aplicação de Neep em pacientes críticos, o único no mundo com certificação da Anvisa para uso em UTI, o que resulta em maior segurança na prática assistencial”, explica o professor.
Os pacientes passam por uma rigorosa avaliação individual para aplicação do tratamento
Os pacientes passam por uma rigorosa avaliação individual para aplicação do tratamento, que envolve a despolarização dos motoneurônios-α, duas vezes por dia, cinco vezes por semana. “Os equipamentos convencionais não possuem características fundamentais como frequência, largura de pulso e intensidade adequadas para nossos pacientes”, explica Marília Mendes.
Atualmente, o time da UTI Neurotrauma do HBDF está vinculado ao grupo de pesquisa Fisiologia Clínica e Inovação Tecnológica, certificado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e localizado no Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (IgesDF). “Por conta do grupo, conduzimos estudos clínicos, orientamos alunos de mestrado e doutorado e temos publicado artigos científicos em periódicos importantes”, relata Silva.
Ana Carolina Lagoa, gerente de pesquisa da Diretoria de Inovação, Ensino e Pesquisa (Diep) afirma que a Gerência de Pesquisa (Gerpe) atua no fortalecimento da produção científica no IgesDF, apoiando projetos inovadores como o desenvolvido pelo Time de Pesquisadores da UTI Neurotrauma do HBDF.
O grupo tem quatro pesquisas em andamento, duas nacionais e duas internacionais. Recentemente, Silva contribuiu para um livro oficial da International Functional Electrical Stimulation Society (IFESS) e foi convidado para palestras nos Estados Unidos. “Lançaremos o livro na RehabWeek 2025, em Chicago, e depois palestrarei na Universidade de Maryland”, conta.
*Com informações do IgesDF
Fonte: Agência Brasília